26 de janeiro de 2013

O pós-Australian Open de cada uma



Sobrou tempo pra perder tempo aqui, então dá pra escrever umas linhas sobre as duas semanas do torneio que acabou hoje. Li algumas afirmações e alguns questionamentos às jogadoras sobre o domínio do top 4 da ATP estar aparecendo no top 3 da WTA. A pontuação no ranking, pelo menos, colabora com a “teoria”. Fato ou não, vejo a WTA mais previsível (isso não é uma crítica – negativa) ou, pra ser elogioso, com jogadoras mais “confiáveis”.

Aí apareceram a chinesa Na Li e a estadunidense Sloane Stephens e as semifinais que caminhavam tranquilamente para a cópia do modelo masculino dos 4 principais cabeças de chave caíram por terra.

Para começar, não vai ser de um torneio que vão sair todas as conclusões e avaliações de cada tenista. Ainda assim, continuo com a ideia de que as “favoritas” (me divirto pensando que na WTA não existe surpresa, todo jogo é 50% de chance pra cada lado...) estão pelo menos um pouco favoritas.

No Australian Open só uma quadrifinalista não era cabeça. Esta foi a russa Svetlana Kuznetsova, uma ex-top, campeã de 2 Grand Slams, que na semana anterior ao torneio havia vencido 5 jogos – um contra a 18ª e outro contra a 10ª do mundo – e, é lógico, conhece os grandes torneios. Surpresa? O ranking ilusório é explicado porque a ex-número 2 não jogava desde Wimbledon (nem todo mundo se chama Rafael Nadal, tem o direito de sair do circuito por um semestre e ainda ficar com 5 mil pontos na conta antes de entrar no cheque especial).

As quedas das principais cabeças nas rodadas iniciais ainda estão aí, mas o ponto é que já foram mais frequentes – acho. Voltando ao US Open-2012, as quartas de final tiveram 8 cabeças e a mais baixa delas era a 20ª. As semis viram 1 x 3 e 4 x 10. Surpresa?

Se a minha sugestão se confirmar, ao menos um ganho garantido para o tênis feminino seria a atenção da mídia. O que a rivalidade Nadal X Roger Federer fez para o esporte nesse aspecto mundialmente é indiscutível. Para o público em geral – no caso brasileiro – ainda há resistência sobre quem é Novak Djokovic – mas qualquer um sabe que o Enílton, de 15 anos, é a maior promessa do esporte mundial – mesmo depois de 2 anos sendo um monstro quase em tempo integral. E para a própria mídia o Andy Murray passou a ser alguém que merecia algumas linhas nas notícias somente depois das Olimpíadas / US Open. O trio Victoria Azarenka, Serena Williams e Maria Sharapova seria muito interessante para a categoria diminuir a dependência de musas, musas e musas para conhecimento do público.

Na reta
A final deste sábado não foi das melhores, logicamente. A número 1 confirmou 1 game de serviço e sofreu 4 quebras no 1º set. Li não tinha problemas para começar as trocas de bola no saque da adversária, mas o serviço da chinesa também nunca foi uma arma. As quebras excessivas continuaram, chegou uma torção, fogos de artifício, outra torção, uma cabeçada no chão e a decisão se arrastou por 2h40. Tempo de pouco jogo, muitas paradas e mínimos pontos de alto nível. Azarenka prevaleceu sobre o excesso de erros em um jogo sofrido, faturando o 2º GS e mantendo a liderança.

Já foi, hora de olhar pra temporada e errar previsões (o site do Australian Open já usou a bola de cristal para algumas jogadoras ontem). Como saem do primeiro GS do ano nomes relevantes da WTA. Não tenho o vício jornalístico de criticar desde um forehand mal executado a um cadarço de uma cor que eu não goste de toda e qualquer pessoa que adentre em seu ambiente de trabalho (também conhecido como quadra, Arena, Estádio, etc), mas, enfim.

- Em alta
Victoria Azarenka – Dizer que a campeã sai por cima é desnecessário. Mesmo sem uma exibição primorosa na final, título é título, ninguém vai reclamar, ainda mais em um GS. Se não precisou medir forças com Serena nem com Sharapova, aguardemos os próximos torneios.

Na Li – Mesmo derrotada, a chinesa voltou à decisão de um GS, sem perder sets, em campanha que incluiu vitória com propriedade sobre Sharapova. Mesmo que só sua equipe possa avaliar o trabalho ao lado do técnico Carlos Rodriguez, ex-treinador da belga Justine Henin, ele parece ter feito bem à tenista, que pode render mais em 2013. (Em várias coletivas a chinesa ouviu perguntas sobre o trabalho com Rodriguez. Mesmo se estivesse tudo dando errado, acredito que a resposta seria: Está ótimo, ele tem me ajudado no físico, técnico, tático, mental, etc. Imagino quanto do sucesso de um treinador já reconhecido é “criado” pela imprensa, que por saber quem ele é, cita seu trabalho – sem, de fato, conhecê-lo – a todo momento. Não apenas no tênis...).


Sloane Stephens – Tendo a ser menos empolgado com a jovem do que a maioria. Foram quatro jogos bons, mas com tenistas que nem eram cabeças. Depois, Serena baleada e derrota para Azarenka. Uma boa campanha para a top 20 (na lista de segunda-feira) pode ser só o começo. O mais importante parece ser a postura dentro e fora da quadra, principalmente quando foi forçada pelos jornalistas a criticar o atendimento médico de Azarenka e não entrou na polêmica por 10 perguntas seguidas na entrevista coletiva.

Svetlana Kuznetsova – Já escrevi algumas linhas acima. Aos 27 anos, a russa tem a minha torcida para voltar a mostrar o tênis que tem com mais frequência.

- Em baixa
Sara Errani – Campeã de 3 dos últimos 4 GS nas duplas, a italiana não parece ter jogo de top 10 (e o top 10 apresenta um padrão de jogo?). Mas um bom calendário e algumas chances aproveitadas rendem semanas ali. A derrota na primeira rodada descontou quase 500 pontos, mas a concorrência colabora... O vice de RG, algumas chances até a semi do US Open e títulos em WTAs de menos prestígio também. Veremos como vai ser sua primeira temporada entre as favoritas em praticamente todos os torneios que disputar. Diria um francês que os hormônios femininos aparecem em momentos assim.

Petra Kvitova – Nem precisa de muitos comentários. Segunda rodada em Brisbane e estreia em Sydney. Há um ano a tcheca estava na semifinal em Melbourne e se conquistasse o título viraria a número 1 (se a memória não me trai a possibilidade era essa). A derrota cheia de tensão na segunda rodada é a continuação de um ano em que Kvitova mais se perdeu do que se encontrou. Uma pena.

Nadia Petrova – Fazer dois games na estreia de um GS, diante da número 100 do mundo, que, por acaso, tem 42 anos de idade não pode ser positivo – com todo respeito aos mais velhos. A ex-número 3 do mundo encerrou 2012 com o título da exibição de luxo de Sofia. E o começo de 2013 não foi animador.

Venus Williams – A forma como Sharapova a varreu de quadra foi impressionante. Enquanto não recupera o bom ranking, Venus está sujeita a enfrentar as tops nas primeiras rodadas. Daí a levar uma surra em horário nobre – o que só é legal em novela, diriam – vai uma distância. E recuperar o ranking passa por torneios além de GS, o que pode não estar nos planos da (condição física da) ex-número 1 aos 32 anos.


- Na mesma ou com pouca variação
Maria Sharapova – A surpreendente derrota na semifinal faz a russa sair por baixo. Mas a maneira como ganhou cinco jogos anteriores não pode ser ignorada. Nos últimos anos Sharapova reencontrou um jogo digno para brigar por títulos importantes e não sofrer contra adversárias fracas nas primeiras rodadas ajuda. Não dá pra duvidar em 2013 por causa de uma derrota inesperada.

Serena Williams – Fez o que era esperado. Atropelou quatro adversárias. Sofreu com uma(s) lesão(ões) e não conseguiu pedir um atendimento médico a tempo contra Stephens... (Sobre o ranking, algumas linhas no final).

Ana Ivanovic – Variação um pouco positiva. Boa vitória contra Jelena Jankovic e queda nas oitavas para Radwanska podem ser normais. Mas o top 10 não parece tão distante para esta temporada.

Agnieszka Radwanska – Abriu o ano com 13 vitórias seguidas e ainda assim a variação é um pouco negativa. Estão a ponto de comparar a polonesa com a Era trocadora de bola de Murray. Top 5 consolidada, chega às rodadas finais e não consegue incomodar as adversárias de melhor ranking. Desta vez ainda foi surpreendida por uma boa atuação de Li antes da esperada semi. Sobre um estilo diferente de olho nos GS, precisa ver isso aí...

Caroline Wozniacki – Li as mesmas críticas de sempre à ex-número 1. Só 1 vitória em 2 torneios antes do AO e queda nas oitavas do GS não merecem comemoração, de fato. Mas não vejo nada de diferente do que Wozniacki tem feito já há algum tempo. As 3 derrotas foram em 3 sets, 2 delas para Kuznetsova. Em condições normais, se as duas estiverem bem, são resultados mais do que esperados.

Samantha Stosur – A queda da cabeça 9 na segunda rodada pode ser uma grande surpresa. Mas a relatividade de uma zebra passa pela certeza que se atribui ao favorito. Do mesmo modo, o tamanho da decepção é diretamente proporcional à expectativa criada. Stosur na Austrália? Pra mim sai na mesma, as expectativas eram mínimas.

Angelique Kerber – Sinceramente, não consegui ver nada dela. Passo.

Marion Bartoli – Também não vi. Apesar da queda na terceira rodada, seu histórico de só ter passado da 3ª rodada uma vez em 12 anos no AusOpen se encaixa no caso de Stosur. Sem expectativa, sem decepção.

Depois da curva
Ainda sobre o ranking, algumas linhas sobre Serena ser a virtual número 1. Tenho a tendência de concordar com Ivanovic e dizer que o ranking não mente. Lesões a parte, a estadunidense não joga alguns torneios porque não quer – a lista de entradas de Indian Wells saiu nesta semana e as únicas top 30 fora dela são... Serena e Venus.

O ranking pode até não indicar quem é a melhor jogadora, mas indica quem jogou melhor os torneios que se propôs a jogar nas últimas 52 semanas e que vão contar pontos para o ranking. Em 2012, Federer jogou torneios que “não gosta”, que não jogaria (e não vai jogar) em outras temporadas, que eram muito fáceis para seu nível de jogo. E? Pontos são pontos, diria um ranqueado poeta. Se essa fosse a preocupação de Serena – tenho minhas dúvidas que seja – um único torneio que acrescentasse ao calendário já seria suficiente.

Ah, mas ela ganhou Madri, Wimbledon, Olimpíadas, US Open, WTA Championships, Brisbane, Desafio Internacional Brasil X Uruguai e Copa São Paulo! Sim, e perdeu na estreia de Roland Garros e da Gillette Federer Tour. E as 89 vitórias seguidas que Azarenka teve no início de 2012? Ah, mas nenhuma foi contra a Serena. O ranking não vê adversário, diria um filósofo ranqueado.

Enfim. Logo esses pontos serão descontados e a ordem restabelecida para que tenham fim as discussões de mesa redonda que não cansam de andar em círculos.

Ou não.

Fotos: Site australianopen.com