24 de maio de 2015

Contador entra na última semana com uma mão no troféu do Giro d’Italia 2015

A vantagem de 2min35s para o italiano Fabio Aru (Astana) e a forma mostrada nas duas primeiras semanas colocam o espanhol Alberto Contador (Tinkoff-Saxo) disparado como favorito ao título do Giro d’Italia 2015. O bi (nos livros) e o tri (incluindo o doping) deve se confirmar em Milão no próximo domingo, dia 31. Que comece se intensifique a especulação da dobradinha Giro-Tour de France.

Por enquanto, o resumo da segunda semana e como, um a um, os (poucos) adversários foram ficando pelo caminho. A 10ª etapa, da última terça-feira (19), e a controversa punição ao australiano Richie Porte (Sky) estão aqui. Uma pena que um ótimo primeiro semestre tenha acabado com punição, quedas e pneus furados, que acabaram por fazer o australiano jogar a toalha no time trial da 14ª etapa.

Contador reassume maglia rosa após TT da 14ª etapa. Pra não perder mais (?)

12ª etapa, 21 de maio (quinta-feira) – 190km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
O dia anterior, de importante, teve uma queda do colombiano Rigoberto Urán (Etixx-Quick Step), 6º na GC. Ele continuou, com o braço esquerdo enfaixado. Uma chegada em categoria 4 não deveria criar problemas para ninguém. Mas na prática a teoria é outra, já dizia o poeta. O ritmo intenso do início em um dia chuvoso proporcionou emoção. Ao final, Aru explicou que não teve muito tempo para se alimentar corretamente e para a equipe buscar coisas no carro.

O australiano Michael Rogers foi o primeiro a aparecer puxando Contador (vídeo dos 14km finais), com a cadência de um jovem de 35 anos. A Movistar deu um ataque conjunto e, apesar do italiano Giovanni Visconti estar a 2min12s de Contador, ele respondeu. Então a descida se resumiu a um batalhão da Astana na ponta até a subida final.

Restando 2km, a fuga (dois ciclistas) tinha 30s de vantagem. A 1km, tinha 20s. A BMC Racing fez o trabalho de busca com maestria e o belga Philippe Gilbert completou levando a etapa. Mas o que importa é a GC.


Em 1,2km o percurso ficou mais íngreme, o que parecia pouco foi muito bem aproveitado por Contador. Nos últimos 500m, com um sprint/ataque, que não foi “daqueles” porque a estrada escorregadia não permitia, o espanhol conseguiu colocar tempo em todo mundo. Em 2º lugar na etapa, o principal ganho veio com o bônus de 6s. O que sempre faz pensar se o ataque aconteceria se não existisse o bônus. E o bônus aos 3 primeiros é um incentivo que aumenta a emoção justamente nesses casos. O dia marcou a primeira vez que Aru não acompanhou Contador (tomou 8s + 6s). Na estrada, o ganho foi o seguinte com o “sprint em câmera lenta”:

- A 3s de Gilbert: Contador e mais 4 que tentavam levar a etapa.
- A 6s de Gilbert: Mikel Landa (Astana), Urán, Roman Kreuziger (Tinkoff-Saxo), Visconti, Caruso (BMC), Porte e mais 4.
- A 11s de Gilbert: Aru, Dario Cataldo (Astana), Andrey Amador (Movistar), Leopold Konig (Sky) e mais 9.

Contador aumentou a liderança para 17s para Aru, 55s para Landa, 1min30 para Cataldo. Urán, em 6º, levava 2min19. Porte era o 12º, a 3min18s. As atenções já se voltavam para o TT de 59,4km, dois dias depois. Mas a etapa seguinte reservava um imprevisto.

Aru após a 12ª etapa

13ª etapa, 22 de maio (sexta-feira) – 147km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Em mais um dia que não deveria acontecer nada (vide perfil), uma queda a 3,3km tratou de provar o contrário (vídeo dos últimos 10km). Tivesse sido 300m mais à frente, o pelotão receberia o mesmo tempo pela etapa. Aru e Urán passaram ilesos, assim como outros que acabariam aparecendo como candidatos a zebra na GC (o costarriquenho Andrey Amador, o russo Yury Trofimov – Katusha – e o belga Jurgen van den Broeck – Lotto Soudal).

Contador, desesperado, pegou a bicicleta do dinamarquês Christopher Juul-Jensen (de companheiro de equipe a UCI permite), perdeu 36s e a camiseta de líder pela primeira vez em um Grand Tour. De maneira atípica – mas é preciso esperar o inesperado em uma prova de 3 semanas, e foi consenso entre os ciclistas que o pelotão estava muito “nervoso” – Aru vestiu a maglia rosa de maneira inédita, com 19s de vantagem.

Aru após a 13ª etapa

Porte, esperando que a direção da prova desse o mesmo tempo para os envolvidos e os não-envolvidos na queda ou já entregando os pontos, cruzou a linha já sem muita animação, 2min04s atrás de Aru. O Giro estava praticamente encerrado para o australiano, que iria de all-in no TT do dia seguinte. E o melhor tuíte do Giro d’Italia 2015 foi para o australiano Simon Clarke (Orica GreenEDGE), o protagonista da punição ao fair play quatro dias antes.


14ª etapa, 23 de maio (sábado) – TT de 59,4km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
A aguardada 14ª etapa teve um pouco de tudo. Estrada molhada, mudança na direção do vento, nomes esquecidos aparecendo do nada, a incógnita condição do Contador por causa do ombro que tinha ido ao chão 2x no Giro, cobertura beirando o amadorismo por parte do site oficial, etc. Um TT sem parciais perde o seu propósito, ainda mais um de longos 59,4km. A transmissão da TV se esforçou pra ajudar (vídeo).

Vasil Kiryienka, o vencedor em condições favoráveis

O bielorrusso Vasil Kiryienka (Sky) aproveitou o momento de condições melhores e surpreendeu com a vitória. A expectativa de que guiaria Porte ao caminho das pedras não se concretizou e o australiano saiu de vez da briga, tomando infinitos 4min07s do Contador. Aru, que nas duas últimas etapas viu a diferença que 24h fazem, levou o troco. O espanhol, que deveria ter faturado a etapa se ocorresse em condições iguais para todos, reassumiu a maglia rosa imediatamente de maneira acachapante.

Entre aqueles que começaram o dia no top 20, quem apanhou menos tomou 1min12s (van den Broeck) e 1min31 (Konig). O belga passou a sonhar, na 5ª posição na GC, e o tcheco virou o líder da equipe, em 10º, 3min17s à frente do medíocre desempenho de Porte (já 8min52s de Contador). Aru ligou o sinal vermelho ao levar 2min47 e ver o rival liderar por 2min28s. O desempenho, no entanto, não foi tão decepcionante. Já era esperado que o italiano perdesse tempo. No fim, ficou em 29º na etapa e sofreu “só” 16s de Urán, que era um dos favoritos à etapa, senão o principal nome. O que prova a monstruosidade de Contador nesse sábado.

Contador
Aru

As outras surpresas positivas foram Amador e o canadense Ryder Hesjedal (Cannondale-Garmin), mas apenas o primeiro já estava em boas condições antes do TT (8º na GC) e se tornou a maior surpresa do Giro em uma Movistar sem o colombiano atual campeão Nairo Quintana e o espanhol Alejandro Valverde, em 3º. Mais uma vez, a etapa serviu para comprovar que os domestiques que ameaçam na GC e podem se tornar líderes de equipe após uma eventualidade, desmoronam em TTs (talvez até para poupar energia para ajudar o líder nas escaladas). Kreuziger (Tinkoff-Saxo), Landa e Cataldo (Astana) se viram fora do top 5 após os 59,4km.

Antes...
... e depois do TT da 14ª etapa

15ª etapa, 24 de maio (domingo) – 165km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Ah, Madonna di Campiglio (vídeo da chegada na montanha). As subidas mais íngremes estão por vir, mas o Giro não parece aberto. Se é verdade que a Astana controla o pelotão, também o é que não consegue droppar o único adversário que precisa.

Aru tinha 4(!) companheiros no início da escalada (Landa, Tanel Kangert, Paolo Tiralongo e Diego Rosa). Contador já estava isolado. Erros de estratégia à parte, como permitir que o espanhol “atacasse” só pra ter 2s de bônus em uma intermediária a 15km da chegada, o momento caminha para a aceitação de que simplesmente não existe tática que vá fazer o espanhol balançar.

"Vai ou não, moleque?"

Os outros do “pelotão” foram sendo droppados aos poucos. O grupo ficou reduzido a 8 restando 6,5km. Até 3km, o ritmo era forte, mas ainda sem ataques. O primeiro veio de Landa, Contador contra-atacou e Aru “permitiu”. A quase 2km, foi a vez de Aru atacar, meio que pra tentar mostrar o que sabia que não tinha. Landa estava melhor do que o líder da Astana. Tanto que voltou a atacar e colocou o italiano em apuros. Quando parecia que a etapa e os bônus dos 3 primeiros ficariam entre eles, Trofimov surge de algum lugar e traz emoção ao km final.

À Astana, restou a vitória na etapa e mais 7s que Contador colocou em Aru. À Tinkoff-Saxo, uma mão no troféu mesmo que a equipe não esteja correspondendo às expectativas. Kreuziger ajuda. Rogers vez ou outra. O italiano Ivan Basso e o português Sergio Paulinho são nulos.

Quem pára?

Ah, Urán, Cunego e Formolo tomaram exatos 8min de Landa. Hesjedal foi bravo e chegou 3min11s atrás do vencedor. Van den Broeck não repetiu a mágica do TT (5min47s). E Porte, à passeio, chegou 27min04s depois.

Depois da curva
Atenção para as etapas de terça e, principalmente, sexta e sábado, como apontado desde o início aqui. A quinta-feira tem montanha na segunda metade, mas a chegada será com quase 20km de descida.